ATA DA DÉCIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 15.05.1990.

 


Aos quinze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadã Emérita à Srª Ivette Tereza Brandalise Mattos, nos termos da Resolução n° 1030/89. Às dezessete horas e três minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Jornalista Ivette Tereza Brandalise Mattos, Homenageada; Arquiteto Milton Mattos, Esposo da Homenageada; Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa; Bacharel Olívio Dutra, Prefeito Municipal; Jornalista Cândido Norberto, ex-Deputado Estadual; Dr. José Antonio Dedius Vieira da Cunha, representando o Governador do Estado; Drª Mercedes Morais Rodrigues, Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher e Verª Letícia Arruda, autora da proposição e, na ocasião, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT e PFL, destacou a coragem de opinião da Homenagem e sua notoriedade na área da crônica. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, referiu-se à contribuição da Jornalista para que a Cidade de Porto Alegre seja uma Cidade de todos. O Ver. Mano José, em nome da Bancada do PDS, ressaltou o mérito incontestável da Homenageada, comentando a exatidão das informações prestadas pela Jornalista. A Verª Letícia Arruda, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PL, PMDB e PSB, referiu ter a Homenageada, a firmeza e a dedicação, como marcas registradas, mencionando, ainda, a sua bem-sucedida trajetória profissional. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pela Verª Letícia arruda, do Título Honorífico de Cidadã Emérita à Srª Ivette Terezinha Brandalise Mattos. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra a Homenageada, que agradeceu a homenagem conferida pela Casa. Às dezessete horas e cinqüenta e sete minutos, o Senhor Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pela Verª. Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Ivette Tereza Brandalise Mattos, nome consagrado no nosso meio, na área de comunicação social, recebe nesta tarde, com todo o merecimento, o título de Cidadã Emérita pelos relevantes serviços prestados à imprensa escrita, falada e televisionada, por proposição da Verª Letícia Arruda. Esta Casa sente-se honrada em recebê-la. A concessão do Título referido é o momento até de resgatarmos, já era um débito que esta Cidade estava devendo à nossa querida amiga.

Com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt, que fala pelas Bancadas do PT e PFL.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Prezado companheiro Olívio Dutra, Prefeito desta Cidade; Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, companheiros da área de jornalismo, com quem tenho tido o prazer de conviver há tantos anos, o Vieira, o Cândido, o Firmino e muito especialmente, sem dúvida nenhuma, a Ivette, o Milton. Senhoras e senhores desta Casa, quero, antes de mais nada, agradecer ao Ver. Zanella, que me pede que também fale nesta Sessão em nome do Partido que ele representa aqui nesta Casa, o PFL.

Eu queria, Ivette, nesta homenagem, com tantos aspectos para a gente relembrar do teu trabalho, a tua presença, nesta Cidade, mas eu queria começar lembrando aqui a primeira vez que eu tive a oportunidade de te ver, te encontrar, lá por 1966. Não vou entrar muito em detalhe das datas que tu podes não gostar, não sei. Foi por aí, quando tu estavas no palco do Teatro São Pedro, vivendo a Moratória, do Jorge de Andrade. E eu começava a escrever sobre teatro, naquela época, no Jornal do Dia, já falecido como tantos jornais nesta Cidade. E a Ivette chamava a atenção, desde logo, no contraste com os demais companheiros em cena, vivendo esta peça, por vezes até trágica, do Jorge de Andrade, toda uma crise, num determinado período da história brasileira. De lá para cá, provavelmente centenas de vezes em que me encontrei com Ivette, em coisas, momentos, situações importantes que aconteciam nesta Cidade. A última, importante, nesta Cidade, foi no ano passado, no último comício realizado, aqui, pelo Lula, já no segundo turno, quando nós estávamos lá no alto de um prédio, bem em frente à Prefeitura, assistindo, a Ivette, o Milton, uma dezena de pessoas, pelo menos, discutindo o que ia dar, o que não ia dar, já deu e, enfim, a vida continua e estamos aqui, hoje, exatamente com esta homenagem à Ivette. Neste período eu queria destacar a trajetória, antes de tudo profissional, da Ivette, em qualquer área. A área da Psicologia, de Jornalista, na área do jornalismo cronista, e a entrevistadora. As experiências mais diferentes que eu tive oportunidade de cruzar. Como cronista, eu gostaria de destacar, sobretudo, daí me parece a importância desta homenagem, à qual eu, pessoalmente, em nome da minha Bancada, a Bancada dos trabalhadores, queremo-nos associar, é a coragem da opinião. Eu recortava, aqui, Correio do Povo, 1980, a Ivette dizia o seguinte numa entrevista: “Meu jornalismo há muito tempo que é de opinião, eu sempre assumi a responsabilidade de tudo quanto dizia, inclusive diante da empresa onde trabalho, o que eu faço é de minha inteira responsabilidade; a minha faceta opinativa se deu a partir de 1966, na Rádio e no Jornal, a partir de 1969”.

 Essa posição de uma opinião muito clara em tempos tão difíceis, por vezes teve alguns dissabores para a Ivette. Eu lembro, por exemplo, que um certo alcaide, nesta Cidade, não gostava das crônicas da Ivette e pediu à direção da empresa “a cabeça” da Ivette, no que foi atendido, prontamente, como era comum naquela época, e a Ivette passou um certo tempo no ostracismo, nem jornal, nem rádio e nem TV. Nem por isso deixou de voltar num certo momento e continuou, exatamente, com aquela linha que sempre a caracterizou, a opinião, a posição, eu diria, como jornalista, eu tive a oportunidade de ver as duas experiências diferentes, participar ao lado dela como jornalista e depois ser entrevistado por ela tantas e tantas vezes. Por vezes, a pergunta irônica e sutil, de armadilha, mas a pergunta que é fundamentalmente a função do repórter, o Audário Dantas, um dos tantos jornalistas que tem prestado inestimáveis serviços neste País onde o trabalho de empresa é tão difícil, o Audário, uma vez perguntado qual era a principal faceta do jornalista dizia: saber perguntar.

Sem dúvida nenhuma a Ivette, ao longo desses anos, sempre soube perguntar, nunca teve vergonha ou medo da pergunta, sempre soube fazer a pergunta que realmente trazia esclarecimento a quem estivesse assistindo ou lendo, no rádio, na televisão, no jornal. Ivette foi a primeira mulher a aparecer na televisão do Rio Grande do Sul em programa de noticiário, em 1968, 1969, num programa patrocinado por uma empresa local, noticiário em que a Ivette surgia no vídeo. Mas, sobretudo, a Ivette se notabilizou, especialmente, na área da crônica, e eu tive a alegria de ser instado, quase que obrigado pela Ivette, a ajudá-la na organização do livro de Crônicas dela, e depois a ontologia que eu montava sobre Literatura Gaúcha, eu destacava alguns textos. Queria relembrar aqui algumas passagens, porque acho que, sem dúvida nenhuma, ao lado desse aspecto de jornalista, o lado da escritora, o lado da cronista da Ivette, para quem escreve sem dúvida nenhuma numa hora de homenagem é a gente recordar o texto. Textos que são inclusive datados, textos que nos remetem a determinados fatos que ocorreram nesta Cidade. Porque ao lado de uma sensibilidade imensa da Ivette, ela tinha também essa capacidade do momento certo de tirar aquele fato que era o centro das nossas atenções e transformá-lo no centro da sua crônica. Ela comentava, assim, por exemplo, um episódio que marcava essa Cidade. Todos vão lembrar de uma crônica chamada “Equivoco”, onde ela dizia o seguinte: “É claro que tudo não deve passar de um mal-entendido, que amanhã ou hoje mesmo estará esquecido. Problemas talvez de comunicação, coisa muito comum, só pode se tratar de um equívoco a presença dos três estudantes que impediram a derrubada da árvore na João Pessoa, dos fichários do DOPS, é possível inclusive que a falta de conhecimento dos critérios adotados pelos DOPS esteja dando margem a interpretações erradas, porque é evidente que nenhuma ficha pode apresentar como crime a pacífica e silenciosa manifestação de três jovens em defesa de uma árvore ainda mais silenciosa e mais pacífica”. Vocês lembram aquela árvore ali na João Pessoa, na subida ali da Faculdade, que se pretendia derrubar para fazer um imenso viaduto? Mas teve outra crônica, com o título “Embrutecidos”, onde a Ivette escrevia o seguinte: “Eu conheço José, acho que você também conhece, acho que nós todos conhecemos, mas a polícia não conhece, José, o cego da gaita. Só aceita José devidamente documentado e o único documento que ele tem é a sua cegueira, a sua mulher, seus três filhos, sua pobreza, e isso não identifica ninguém. Antes José tinha também uma sanfona, um lugar no Mercado, uma caixa de papelão, onde os passantes jogavam as migalhas de sua caridade, e todo mundo sabia quem era o cego da gaita. Hoje, a gaita não está mais com ele, está com a polícia e José não pode reavê-la porque não pode provar que é José Pinto da Silva, o cego da gaita.” E é por aí a crônica da Ivette. Mas no livro de estréia da Ivette, a aventura que até agora resolveu não repetir, apesar de todas as brigas que nós temos em sentido contrário, ela fechava este livro, um livro que é exatamente de 1979, uma crônica publicada alguns anos antes, sob o título “Censura” e que dizia o seguinte: “Um grupo de intelectuais brasileiros está preparando um memorial para ser entregue ao Ministro da Justiça Armando Falcão, pedindo o fim da Censura que ameaça o próprio desenvolvimento da cultura nacional. Tudo muito bonitinho dentro das normas da boa educação, com gentilezas, sendo expelida por todos os poros. A maior compreensão, a maior boa vontade, por parte do Ministro que prometerá estudar cuidadosamente o assunto. E tudo ficará por isso mesmo. O que não impede que eu fique aqui torcendo e rezando para que este movimento encontre alguma receptividade. Talvez os argumentos apresentados pelos intelectuais possam encontrar ouvidos desobstruídos, possam realmente convencer o Ministro da necessidade de rever o assunto, possam levar à reformulação dos critérios adotados atualmente pela censura que tão sutis fogem totalmente à compreensão de qualquer mortal”.

A Ivette se referia, naquela crônica, à proibição do Livro “Feliz Ano Novo”, do Rubem Fonseca, um dos absurdos da nossa experiência ditatorial. E um absurdo maior ainda, que foi no mesmo período, a proibição de uma peça infantil da Maria Clara Machado, dirigido pela Irene Britk. E dentro desta crônica ela dizia exatamente isto: “O que os intelectuais querem é liberdade para poder criar. Querem os braços soltos, mente livre de preconceitos, de tabus, de medos, de limitações. Querem liberdade para expressar a sua verdade que não pretende ser verdade absoluta”.

A mim, a coisa que sempre mais me comoveu na Ivette foi exatamente a combatividade. No momento em que tantos homens, tantos machões recolheram a sua palavra, por via das dúvidas foram fazer outras coisas, trocaram de profissão, de ocupação, pelo menos de linha, a Ivette manteve com absoluta coerência, atravessando todos os anos da ditadura, todas as pressões dos meios de comunicação que atuou, todas as pressões dos grandes que ocupavam seus postos: Prefeitura, Estado, Governo Federal, ela sempre manteve uma coerência de uma posição. Certa ou errada, são outros quinhentos, são outras discussões que faremos ao longo de muitos anos, mas sempre manteve a sua mesma posição. O que não impedia, evidentemente, de ter uma sensibilidade de expressão, seu próprio eu, com uma humildade, que a mim sempre chamou a atenção. E que nestas palavras eu encerro com ainda uma citação da Ivette Brandalise, porque é por estas crônicas, também, que ela está sendo homenageada nesta tarde. Numa crônica em que ela dizia: “Não sei de nada que da primavera se passe diretamente para o outono”.

Combativa, critica, jamais aceitando a situação dada, a Ivette nem por menos do que isto deixou de ter esperança e de pensar as coisas adiante. O nosso carinho, Ivette, no meu nome pessoal e no nome do Partido dos Trabalhadores e em nome do Ver. Artur Zanella pelo PFL. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, Líder do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, querida companheira Ivette Brandalise, senhoras e senhores.

Não é nada fácil, para mim, falar sobre a Ivette, a quem eu conheço há bastante tempo, como colega de jornalismo, de cursos, de atividades profissionais, no campo do teatro e, agora, mais recentemente, na psicologia, onde eu não me atrevo a entrar. Foi num mil e novecentos qualquer, e tive mais sorte que o Hohlfeldt, vi a Ivette no palco do antigo Instituto de Belas Artes, fazendo Teatro, depois de ter cursado o CAD, Curso de Artes Dramáticas, que pouca gente se lembra. Antes disso a Ivette tinha sido contemporânea na Faculdade de Filosofia, no curso de Jornalismo, quando ainda era o Curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia. E, agora, mais recentemente, a Ivette enveredou pelo campo da psicologia. Isso tudo compõe um cenário natural, mas o que faz a Ivette uma Cidadã Emérita de Porto Alegre é a sua inquietude. A Ivette não se conforma com as coisas que acontecem ao seu redor e põe isso para fora através do jornal. Agora, não mais através do teatro, mas no seu consultório de psicologia ela certamente terá oportunidade de prestar esse benefício a quem a procura.

Dizia que não era fácil, para mim, porque não é fácil para quem conhece uma cidadã como a Ivette durante tanto tempo de falar sobre a criatura. Tivemos, ao longo destes anos, uma fraterna convivência e a Ivette, além de todas essas qualidades profissionais, tem uma preocupação com a política. A Ivette não pode ser considerada uma jornalista, uma teatróloga, uma psicóloga alienada ou pelo menos sem se preocupar com o que está acontecendo ao nosso redor, principalmente nos anos duros do obscurantismo a Ivette sempre foi um canal aberto àquelas aspirações maiores da sociedade, para um regime mais liberto das amarras, menos escuro, sempre prestou a sua solidariedade àqueles que a procuraram para remover empecilhos ou entulhos que nos avassalavam.

É neste sentido, Ivette, que como representante do povo, nesta Casa, me sinto à vontade para dizer que Porto Alegre te acolhe com muita simpatia. Não é para repetir um chavão, dizer que Porto Alegre sem Ivette não seria a mesma Porto Alegre, Porto Alegre sempre será Porto Alegre apesar de nós. Mas, realmente, a homenagem que se presta à Ivette Brandalise, nesta Casa, tem um significado: dos muitos títulos que a Câmara Municipal concede a cidadãos de outras plagas que vieram ancorar, que aqui vieram trazer a sua contribuição, muitos se encontram nesta sala. A Ivette contribuiu com uma parcela muito ponderável para que esta Cidade seja uma Cidade de todos. É neste sentido que quero cumprimentar a nova Cidadã Emérita, em meu nome pessoal e em nome do PCB. Que tenhamos a Ivette ainda por muitos anos, prestando a sua contribuição para que esta Cidade se transforme numa Cidade mais livre, mais amiga, mais confiável, capaz de abrigar a nós todos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Mano José pela Bancada do PDS.

O SR. MANO JOSÉ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa, senhoras e senhores, hoje estamos aqui reunidos para render justa homenagem à Senhora Ivette Teresa Brandalise Mattos, por iniciativa invejável da nobre Verª Letícia Arruda.

A nossa homenageada, Ivette Brandalise, é uma jornalista das mais conhecidas, de mérito incontestável em nível regional e nacional. Permita-me, Ivette Brandalise, a comunicadora, ilustre homenageada, a ousadia de uma pequena e modesta fala sobre o que penso, sejam a imprensa e seus artífices, os comunicadores.

Creio que a imprensa é, indiscutivelmente, uma guardiã natural da democracia e da cultura do mundo livre. É através da imprensa que primeiro se ouve os brados libertários de um povo oprimido e, também, ao final da luta, seus hinos de glória e independência. As notícias sobre os grandes males e grandes remédios nos chegam sempre, em primeira mão, através de um jornal, do rádio ou televisão. Nada disso, entretanto, seria possível sem o trabalho e esforço dos profissionais de comunicação. Sem jornalistas, repórteres, locutores, editores, a imprensa seria cega, surda e muda, não existiria.

Ivette Brandalise, quem não recorda, e hoje ainda testemunha no seu programa da TV Educativa, jamais deixou de informar a verdade com honestidade e isenção, sempre fiel aos fatos reais, e inspirada por elevados preceitos éticos e profissionais.

Lembro-me, recentemente, de ter acompanhado uma longa reportagem, na TVE, sobre a poluição do nosso Delta do Jacuí, na qual Ivette Brandalise denunciou o assassinato dos nossos rios e suas conseqüências. Durante aquele programa, constatei o refinamento técnico da jornalista e seu compromisso expresso com a saúde e o futuro das comunidades que dependem daqueles rios.

Devemos, o povo rio-grandense é devedor do trabalho incansável de Ivette Brandalise em prol da cultura e da verdade, valores inestimáveis da democracia.

Querida Ivette, quem não se recorda da voz da nossa querida Ivette Brandalise, ao meio-dia, quando parávamos o almoço, e eu posso dizer parávamos porque falo em nome da família Mano José e em nome do PDS, parávamos, literalmente parávamos, encerrávamos o almoço ao ouvir a voz da tão querida Ivette Brandalise. Ali, tenho certeza, dei os meus primeiros passos na política de Porto Alegre, em prol da política rio-grandense. Ivette, Porto Alegre, sem dúvida, tem muitas Ivettes, mas Porto Alegre sabe que tem uma – e só uma - Ivette Brandalise. Ivette Brandalise, querida, saiba que os corações da família Mano José, cada vez que ouvem seu nome, eles certamente pulsam mais forte. O nosso muito obrigado, o obrigado da população porto-alegrense pelo teu serviço e pela pessoa maravilhosa que tu és. Mais uma vez, muito obrigado e que Deus te dê forças para que continues com o mesmo ímpeto, com a mesma verdade jornalística, com a mesma garra que só tu tens. Muito obrigado Ivette Brandalise. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a Verª Letícia Arruda, pela Bancada do meu Partido, o PDT e pelas Bancadas do PTB, PL, PMDB e PSB, autora da proposição.

 

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: É com muita honra, nesta tarde, que falo pela Bancada do meu Partido, o PDT e pelas Bancadas do PTB, PL, PMDB e PSB.

Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, componentes da Mesa. A história de Ivette Brandalise é a da dificuldade, compartilhada por muitas mulheres, inclusive por mim, em diferentes situações, de vivenciar com sucesso escolhas que se caracterizam pela transgressão às normas socialmente definidas.

Ao optar pelo jornalismo escrito, radiofonado e televisionado, em uma época em que a mulher só aparecia nesta profissão para falar sobre assuntos pertinentes à mulher, como moda, cozinha ou então se restringia à locução e apresentação. Percebendo a existência de outras possibilidades, Ivette extrapolou da condição feminina. Ela optou por abdicar deste “recato”, entre aspas, para emitir opinião – para viver intensamente um papel diferente do que lhe estava destinado. Assim, transgrediu frontalmente as normas que regiam a condição feminina da ocasião, segundo os parâmetros aceitos e defendidos em nosso meio social.

Esta figura não tinha como passar despercebida no vídeo, no rádio ou em suas crônicas. Cada um de seus materiais são mostras de uma pessoa decidida e firme em seu posicionamento. Poderíamos dizer que se trata de marcas registradas: a firmeza e a determinação.

À medida que existe um padrão de conduta profissional, raramente as pessoas saem destes moldes já prontos. É claro que ao fazê-lo, Ivette pagou um preço. Ao dissociar-se desta linha mestra, tomou uma decisão consciente indo além da questão feminina, entrando decididamente na análise da qualidade da vida moderna, expondo fatos e sentimentos e se interrogando implacavelmente.

A mídia se encarrega de exigir da profissional determinada postura, mas Ivette confronta-se com estes mitos pseudo-modernos, não entrando na estereotipificação que a mídia exige. Ao fugir da esfera desejada para a mulher, ou seja, a eterna partner, a coadjuvante, ela ousou questionar a ideologia pela qual estava sendo lida, ouvida e vista. Ivette argumenta, questiona e, principalmente, desafia. Penetra nas estruturas do mundo do poder com desenvoltura e sucesso, sem alterar sua personalidade. O caminho da ação pareceu-lhe óbvio. Seu posicionamento nos veículos foi uma espécie de arauto de uma nova raça de mulheres capazes e, acima de tudo, comprometidas com a idéia de viver a verdade. Perseverou e muitas vezes demonstrou recusa inabalável em aceitar as limitações impostas.

A partir de seus vários inícios e recomeços perplexos, busca uma forma de crescimento, dando um tom de autoridade e autenticidade a tudo que realiza. Dessa visão original de registrar o momento e o mundo atual, dando uma nova dimensão na análise de temas muitas vezes exaustivos e cruéis, deste vigoroso e renovador contato com a obra de Ivette Brandalise é que me levou a prestar-lhe esta homenagem.

Como mulher e mãe, eu conheço parte das dificuldades pelas quais Ivette passou, mas este não é o dado mais importante. Ela as superou, e as superou muito bem, impondo seu estilo de trabalho, sua forma de comunicação. Podemos dizer que Ivette Brandalise é um exemplo de profissional bem sucedida. Teve clareza e conseguiu passar sua mensagem ao longo dos anos, nos mais diversos veículos em que trabalhou.

O que eu posso te dizer, Ivette, é que valeu! Valeu a tua trajetória de vida e eu, admiradora do teu trabalho, da tua obra, quero também colaborar um pouco no reconhecimento de tudo o que desenvolveste, afinal, este é o teu patrimônio, é uma conquista tua e da tua capacidade.

Receba do povo da Cidade de Porto Alegre, através de seus representantes, a homenagem de todos que leram a tua opinião, viram o teu comentário na TV, tuas entrevistas e ouviram teus programas. O Rio Grande agradece. E Porto Alegre reconhece Ivette Brandalise como a mais nova Cidadã Emérita desta Cidade. (Palmas.) Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito à Verª Letícia Arruda que faça a entrega do diploma à homenageada.

(É feita a entrega.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a Srª Ivette Brandalise.

 

A SRA. IVETTE BRANDALISE: Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. José Antônio Vieira, representando o Governador do Estado; Bacharel Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Jornalista Firmino Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa – ARI; meu querido amigo Cândido Norberto, Cidadão desta Cidade; meu companheiro Milton Matos, Srs. Vereadores, meus amigos da área da psicologia, da área do jornalismo, minhas amigas do Conselho Estadual pelo Direito da Mulher, minhas amigas de pensionato, minhas amigas de internato, meus amigos.

Não preciso dizer que estou emocionada, mas preciso dizer que estou me sentindo imensamente feliz por poder assumir, oficialmente, minha cidadania porto-alegrense diante de todos os amigos que estão aqui e através dos quais eu aprendi a amar esta Cidade. E foi através do amor, sem dúvida, que eu fui me fazendo uma cidadã, que eu fui me sentindo parte da Cidade. Amor pelas pessoas, pelas ruas, pelas esquinas, pelo rio, pelas cores, até pelos cheiros desta Cidade.

Quero enfatizar, também, o fato de estar recebendo este título por proposta de uma mulher, Verª Letícia Arruda. Uma mulher que não me conhecia pessoalmente, mas que – certamente por ser mulher – soube entender que o meu amor pela Cidade significava entrega, que a minha postura diante das coisas da Cidade significava integração, que eu, afinal, já era uma irmã nesta família porto-alegrense. E porque sentiu assim, achou que eu mereceria ser oficialmente adotada.

Quero agradecer, também, aos demais integrantes desta Casa que, como representantes do povo de Porto Alegre, concordaram com minha adoção. De muitos deles eu já me sabia irmã, mas foi preciso que uma mulher me trouxesse até aqui numa prova, talvez, de que nós, mulheres, precisamos umas das outras, de que nós, mulheres, sabemos nos comunicar mesmo sem nos conhecermos, que sabemos nos unir nos sentimentos e que, quando temos o mesmo objeto de amor, quando temos as mesmas crenças, sabemos formar uma frente consistente de luta. E na luta por uma sociedade mais justa, nós, mulheres, temos nos encontrado. Uma sociedade à qual pertencemos e na qual estamos colocando nossos filhos.

A minha história em Porto Alegre, aliás, é marcada sempre pela presença solidária, forte, amiga, de mulheres fantásticas que eu tive a felicidade de conhecer. Desde o meu início, ainda menina, no Colégio Bom Conselho, quando a Professora Carmem Santos me mostrou, com sua postura, a mulher indivíduo, que atua na linha de frente, que não se conforma em ficar em casa esperando a volta do guerreiro. Mas houve outras mulheres; três em especial. E eu diria que foram estas três mulheres que cavaram a terra, que prepararam o terreno para que eu pudesse me plantar aqui, como uma árvore. E quando, algumas vezes, eu me senti deslocada, quando eu tive dúvidas, tive medos, quando eu pensei em partir, sempre havia uma delas aparando o vento para que ele não machucasse as folhas tenras de minha árvore recém plantada. Eu faço questão de mencionar estas mulheres porque elas, de certa forma, foram responsáveis pela minha permanência aqui. Responsáveis, portanto, pela minha cidadania porto-alegrense.

Em primeiro lugar eu preciso falar em Gladys Fischbein, que não apenas fez minha cabeça no sentido de minha escolha profissional, me deslumbrando com sua paixão pessoal pelo jornalismo, como foi responsável pelas minhas primeiras oportunidades na área. Foi ela, inclusive, quem me fez enveredar, num determinado momento, pela área das Relações Públicas. Gladys é aquele tipo de indivíduo que a gente precisa encontrar, com quem precisa conviver, para aprender a ser gente.

Ainda na área do jornalismo, eu não posso deixar de lembrar Célia Ribeiro, que não apenas abriu as portas da televisão para mim, como preparou a cadeira e me sentou nela.

E na área da psicologia, eu certamente nem existiria se não tivesse encontrado como minha orientadora, minha supervisora, minha mãe, uma mulher fabulosa, uma mulher guerreira, como foi Loise Dienstmann.

Eu não tenho a menor dúvida de que só consegui me tornar uma porto-alegrense, porque fui alimentada, protegida, puxada, empurrada, em momentos diferentes, por estas três mulheres. E com elas, por perto, eu não cheguei a encontrar obstáculos que não puderam ser vencidos, nunca encontrei restrições ao meu trabalho e jamais, mesmo tendo trabalhado quase sempre com homens, eu, pessoalmente, sofri qualquer tipo de discriminação.

Elas me ensinaram que se u liberasse o meu afeto, eu me enxarcaria de afeto. E me ensinaram, também, que o afeto não permite a postura passiva, apenas receptiva, mas implica em doação, em lutas, em buscas, em conquistas. E me ensinaram que as perdas – inevitáveis – não podem levar à desistência, mas devem levar a novas buscas, novos caminhos, novas lutas. Eu aprendi com elas que o afeto implica em trocas e foi nestas trocas que eu fui me envolvendo com a Cidade.

Mas se as mulheres me abriram caminhos e me ajudaram a plantar a árvore, os homens me ajudaram a firmar as raízes. Na Standard Propaganda: Gilberto Lenhen, Ernani Behs e meu primeiro cliente, Paulo Vellinho. Na TV Gaúcha: Lauro Schirmer, Ibsen Pinheiro, Werner Becker, Maurício Sobrinho. Na DG Filmes: Pércio Pinto, Durval Garcia. Na Calda Júnior: Breno Caldas, Erasmo Nascente, Galvani, Edmundo Soares e todas as pessoas com quem convivi durante 19 anos. E no teatro: primeiro, com Antonio Abujamra e, depois, Mário de Almeida, Paulo José, Paulo César Peréio, Milton Mattos, que tentavam a primeira experiência de teatro profissional em Porto Alegre.

Num momento decisivo em que, formada em jornalismo, eu estava sendo levada de volta para perto de minha família, em Videira, foi a família do Teatro de Equipe que me fez ficar aqui. Nesta família eu cresci, formei minha consciência política, entendi a minha responsabilidade e o meu compromisso com a sociedade a que pertencia. Nesta família eu assumi a minha postura diante da vida e foi ali que eu entendi que a verdadeira igualdade entre os seres humanos e a minha obrigação de lutar por isto. E quando o Teatro de Equipe teve de fechar suas portas eu já tinha me encontrado como mulher e já não saberia mais estar onde não estivesse meu companheiro. Foi Milton quem quis ficar aqui, firmando ainda mais minhas raízes.

Mas a árvore ainda podia ser transplantada, eu sabia disso. Como sei, agora, que ela jamais poderá mudar de lugar, porque as possibilidades de transplante desapareceram com a chegada de André e Felipe. Se este é o lugar que escolhemos para nossos filhos, este é, definitivamente, o meu lugar. Este é o meu campo de trabalho, este é o meu campo de luta. E com esta convicção eu tenho agido, com esta convicção eu semeei meus amigos. Os meus amigos foram feitos aqui.

E com este balanço, é fácil concluir que eu não fiquei aqui, eu fui sendo presa. E apenas o amor me prendeu aqui. E, no amor, eu me fundi com a Cidade. Só isso. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Após a palavra da mais jovem autoridade – foi registrada aqui no cartório – Cidadã Emérita, agradecemos a presença de todos, ao mesmo tempo cumprimentamos a nossa querida Cidadão Emérita. É uma honra para esta Casa e para a Cidade. Agradecemos a presença do nosso Prefeito e das autoridades, o Dr. José Vieira, representando o Governador, o representante da ARI e dos demais amigos que aqui estão. Um abraço a todos.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h57min.)

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